Chegou um email esses dias da Fernanda indicando um dos maiores artistas brasileiros, pouco divulgado aqui na parte sul do Brasil, Francisco Brennand.
vamos lá.
“Quando faço cerâmica, não tenho pátria; minha pátria é o abis-mo pelo qual vou resvalando sem saber o que encontrarei no fundo.” (Francisco Brennad)
Ao visitar Recife é quase impossível não se deparar com o sobrenome Brennand. Parece que em todos os cantos da cidade paira sua sombra, como se Brennand fosse uma espécie de padroeiro da capital pernambucana. Na verdade, Brennand são dois: Ricardo Brennand, criador do Instituto Brennand, onde é possível ver um castelo medieval e armas brancas, e Francisco Brennand, realizador da Oficina Brennand, onde trabalha e expõe suas cerâmicas e pinturas. A relação entre os dois é difícil de ser definida e as explicações dos recifenses variam: para uns, são irmãos, primos, tio e sobrinho, para outros nem sequer são da mesma família. O que se pode afirmar é que, além do sobrenome, ambos compartilham a megalomania, e pode-se dizer que as semelhanças acabam por aí.
Enquanto Ricardo trabalha com a matéria morta, com o passado inerte, Francisco faz um movimento quase oposto. Em uma cerâmica abandonada de seu pai, criou sua oficina e templo. A partir da matéria-prima de seu trabalho, o barro, achou seu tema principal: a criação e origem do mundo. Se Deus criou o homem do barro (à sua imagem e semelhança), Brennand procura recriar todos os mitos criacionistas com a matéria-prima divina, à imagem e semelhança de seu mundo interior. O mito cristão entra em contato com a mitologia grega, no que parece ser um jardim do éden às avessas, onde nada é convencionalmente belo e o pecado original está presente onde quer que se olhe. Em sua obra, o sexo é a força motriz da historia da humanidade, é ele quem move o mundo e provoca ações e reações. Por isso, é constante a presença de formas fálicas e femininas, como as conchas, os ovos e os totens.
Sua obra não é regionalista, como a princípio pode parecer; Brennand parte do universal e, sem perder sua raízes, como bom antropófago, o digere, transformando a história do mundo em seu próprio mito pessoal e acessível. Suas influências são inúmeras e vão do barroco à psicanálise, do gótico à cultura nordestina.
Brennand tem hoje 81 anos e, em meio a ovos, serpentes e pássaros, é possível vê-lo andando por sua oficina, de chapéu de palha, carregando uma longa barba branca. Continua ativo como sempre, mas deixou a cerâmica um pouco de lado, para retornar à atividade de sua juventude, a pintura, talvez numa tentativa de recriar sua própria historia e criação.
Quem quiser saber mais, pode entrar no site oficial da Oficina, onde é possível encontrar textos escritos pelo artista, além de poder dar uma olhada em sua oficina-templo e conhecer um pouco mais sobre a vida de um dos maiores e mais completos artistas vivos do Brasil.
post: Fernanda Pessoa
Muito interessante isso, pq a história da serpente e da maçã metaforizada na bíblia carrega uma interpretação ingênua e desvalorizada no senso comum.
Na verdade, a maçã representa a sabedoria, e o Homem a come representando sua vontade de saber, de inteligência, de investigação.
Essa vontade, q coloca em cheque a verdade absoluta de Deus, deve ser punida por uma lógica mistica que perde força.
O sexo como pecado original representa esse confronto das verdades impostas com as vontades puramente essenciais e naturais do Homem.
Daí, talvez, esta impressão paradoxal que senti ao ver as obras.
Deve ser sensacional ver isso ao vivo.
quem quiser ver ao vivo, não com o mesmo impacto, é só passar na estação trianon-masp. lá existe um totem do Brennand